4 possíveis padrões de evolução da Esclerose Múltipla

A Esclerose Múltipla é uma doença auto-imune, ou seja, o sistema imunológico ataca estruturas do organismo que deveria, em condições normais, defender. Trata-se de uma doença neurológica crônica do sistema nervoso central,  constituído pelo cérebro e medula, que se caracteriza pela inflamação e destruição da mielina em indivíduos com predisposição genética. Essa lesão chamada de desmielinizante, compromete a condução dos impulsos nervosos, podendo afetar a visão, a sensibilidade, o equilíbrio e os movimentos do corpo.

A doença afeta adultos jovens, principalmente mulheres entre 20 e 45 anos, e já foi assunto até de novela na TV. Os homens também são afetados, embora com menor freqüência. O maior número de casos ocorre na Europa, Canadá, norte dos EUA, Nova Zelândia e sul da Austrália. Isso mostra a possível participação de agentes ambientais entre as causas da Esclerose Múltipla. No Brasil, estima-se que existam mais de trinta mil casos, mas nem todos tem diagnóstico ou estão em tratamento.

A evolução da Esclerose Múltipla varia de uma pessoa para outra, podendo se manifestar sob quatro padrões:

  1. Surto-remissão: os sintomas duram de 24 horas a três semanas e desaparecem totalmente, podendo deixar mínima sequela. É o que chamamos de SURTO. O paciente pode, por exemplo, acordar pela manhã com perda ou diminuição da visão em um olho, recuperando-a espontaneamente após alguns dias. Surto-remissão é o padrão de inicio de cerca de 85% dos casos.
  2. Primariamente progressiva: há uma progressão lenta desde o início da doença, sem a ocorrência de surtos. Incide em menos de 15% dos casos.
  3. Secundariamente progressiva: após um longo período na forma surto-remissão, a doença progride com agravamento da incapacidade. Incide em cerca de 50% dos pacientes após dez anos do início da doença sob a forma surto-remissão.
  4. Progressiva recorrente: é progressiva desde o início como a primariamente progressiva, mas está associada a surtos. Há progressão da doença entre os surtos. É a forma mais rara da doença.

É importante salientar que a esclerose múltipla é uma doença imprevisível, portanto não é possível estabelecer em determinado paciente como será a evolução de sua doença, porém uma freqüência menor de surtos nos primeiros 2 anos de doença, início com predomínio de sintomas sensoriais e visuais e recuperação completa dos surtos, parece ter uma evolução mais favorável.

4 possíveis padrões de evolução da Esclerose Múltipla

Os sintomas variam de paciente para paciente, dependendo da área afetada do cérebro, e os mais freqüentes são: perda súbita da visão ou visão dupla, formigamento, dormência ou perda da força em braços e pernas, desequilíbrio, fadiga, incontinência ou retenção urinária e movimentos incoordenados dos membros.

O diagnóstico da Esclerose Múltipla pode demorar até 7 anos para ser feito em um paciente, devido ao pouco conhecimento da classe médica ou falta de estrutura para o diagnóstico. O diagnóstico é baseado em uma ampla investigação do histórico do paciente e no exame neurológico, havendo a suspeita passamos para a realização de exames que nos auxiliam no diagnostico: ressonância magnética do crânio e coluna e a punção lombar.

O método usado para monitorarmos a progressão da incapacidade é a escala expandida do estado de incapacidade, o EDSS. Mas hoje contamos também com os chamados biomarcadores da doença, eles auxiliam o médico na monitorização da doença, avaliando a eficácia da medicação em uso e também de sua progressão. Os neurofilamentos de cadeia leve podem ser detectados no liquor e no sangue, servindo como um instrumento a mais para o controle do tratamento da esclerose múltipla.

Temos outros biomarcadores em desenvolvimento e a associação das medições destes com certeza vai nos dar maiores informações sobre a evolução da incapacidade em determinado paciente, influenciando inclusive na escolha do tratamento.

Já o tratamento da Esclerose Múltipla pode ser dividido em duas partes. Na fase aguda, os surtos são tratados, visando a diminuir sua duração e consequentemente incapacidades. A fase de manutenção envolve o uso de drogas imunomoduladoras e imunossupressoras, que podem modificar o curso da doença, diminuindo o número de surtos e prevenindo a incapacidade.

Terapias alternativas como acupuntura e vitaminoterapia ainda não têm eficácia comprovada no controle da Esclerose Múltipla. Estudos mostram bons resultados no uso do canabidiol, oral no tratamentos de espasmos da doença. Novas drogas, para uso oral, já estão disponíveis, inclusive no SUS (Sistema Único de Saúde), dando maior proteção contra surtos e prevenindo as incapacidades.

É importante que o portador de Esclerose Múltipla saiba que compreendendo sua doença e o tratamento, ficará mais fácil ter uma vida normal, sem restrições e preocupações. Para obter respostas às suas dúvidas tenha sempre como parceiro um neurologista especializado no diagnóstico e tratamento da Esclerose Múltipla.

Dr. Eber Castro Corrêa

Neurologista clínico com larga experiência, com especialização em Neurologia Clinica e Eletroencefalografia na Santa Casa de Misericórdia de Belo Horizonte. É membro da Academia Brasileira de Neurologia e considerado uma das maiores lideranças no Centro-Oeste no diagnóstico e tratamento das doenças desmielinizantes, especialmente a Esclerose Múltipla.


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Artigo publicado em 16 de fevereiro de 2017. Para ler mais textos sobre saúde, acesse nossa página de artigos.